A inteligência artificial não vai nos substituir

Na gigantesca grade de palestras do Web Summit, os dados e a inteligência artificial (IA) permearam boa parte das dez trilhas e 35 temas de conteúdo. Em muitas delas, os painelistas expressaram uma visão futurista, com insights do que podemos esperar lá na frente. Mas, também, foram apresentadas diversas novidades que já impactam a vida […]

Por Wagner Cambruzzi
Publicado em 26/01/2022

Na gigantesca grade de palestras do Web Summit, os dados e a inteligência artificial (IA) permearam boa parte das dez trilhas e 35 temas de conteúdo. Em muitas delas, os painelistas expressaram uma visão futurista, com insights do que podemos esperar lá na frente. Mas, também, foram apresentadas diversas novidades que já impactam a vida das pessoas.

IA é um campo multidisciplinar da ciência e da engenharia cujo objetivo é criar máquinas e sistemas inteligentes, capazes de interpretar eventos, apoiar e automatizar decisões e realizar ações. Evoluções na aplicação de modelos de deep learning e a abordagem IA-first (em que a inteligência artificial vem primeiro) aceleraram, com alta fidelidade, as pesquisas na área da saúde, por exemplo. E, assim, contribuíram para a descoberta de medicamentos durante a pandemia, num prazo inédito.

Não à toa, as startups de IA têm atraído muito investimento. Hoje, já existem 182 unicórnios ativos focados nessa área, totalizando 1,3 trilhões de dólares em valor combinado, segundo levantamento apresentado por Nathan Benaich, da Air Street Capital. Essas empresas e muitas outras que ainda não atingiram esse patamar estão voltadas a resolver problemas do dia a dia, ampliando o potencial das pessoas.

Com a pandemia, as companhias adotaram massivamente o trabalho remoto. E a comunicação interna e com seus clientes passou a ser virtual, gerando perda na capacidade comunicativa. De acordo com Norberto Guimaraes, da Talka AI, em uma conversa face a face, 93% da comunicação acontece além das palavras. São gestos e expressões faciais, além da própria postura. Esse modelo de trabalho não só reduziu nossa capacidade de percepção, mas também trouxe consequências à saúde.

Foi o que apontou James McGann, cofundador da Frankie Heath. Durante a pandemia, é 63% maior a probabilidade de se tirar um dia de folga por problemas de saúde. Além disso, sete em cada 10 pessoas podem desenvolver burnout devido ao estresse. E mais: a chance de procurar um novo emprego subiu 2,6 vezes. Os avanços tecnológicos da IA no processamento de imagem já tornam possível descobrir a percepção, sentimento, emoção e muitos outros atributos a partir de dados "ocultos" nessas conversas.

Segundo Tom Taylor, SVP da Amazon Alexa, em um futuro breve experimentaremos a "inteligência ambiental". Ela vai além de termos dispositivos conectados, adicionando inteligência sistêmica a esses dispositivos ao integrá-los. Como consequência, passará a fazer parte da nossa vida, poderá agir por nós, estará disponível quando precisamos dela e ficará em segundo plano quando assim decidirmos. Taylor destacou que, semanalmente, são acionadas bilhões de interações com a Alexa — sendo muitas delas através de rotinas automáticas. Exemplo disso é o ajuste da iluminação da casa assim que é identificado o latido de um cachorro. E, também, recursos que permitem pessoas com alguma deficiência ficarem mais autônomas ao utilizar comando de voz para realizar tarefas.

Da essência das discussões no Web Summit, ficou clara o desejo de evolução da internet como uma plataforma segura, dando para os usuários controle sobre seus dados — como destacou Tim Berners-Lee, criador da World Wide Web (www). Embora seja evidente o entusiasmo com essa evolução da IA, é consenso na comunidade de pesquisadores e empresas a necessidade de regulamentação que garanta segurança para que as aplicações não prejudiquem a humanidade.

Artigo publicado originalmente em Portal Makingof.