Ser nômade é mais do que viajar, é viver breves sonhos

Como seria viver em um lugar que no Natal realmente pode nevar? Como seria abrir a janela e ver neve caindo? Como seria viver em uma dessas casas dos filmes que assistimos? Eu sempre me perguntei isso, sempre passava na minha cabeça que em algum lugar por aí alguém está tendo uma rotina totalmente diferente […]

Por Camila Trevisan
Publicado em 31/01/2024

Como seria viver em um lugar que no Natal realmente pode nevar? Como seria abrir a janela e ver neve caindo? Como seria viver em uma dessas casas dos filmes que assistimos?

Eu sempre me perguntei isso, sempre passava na minha cabeça que em algum lugar por aí alguém está tendo uma rotina totalmente diferente da minha. Eu queria poder viver isso, ver isso de perto, queria viver tantas vidas diferentes, mas eu não queria deixar as pessoas que eu amo nem o que eu gosto de fazer por conta disso.

Todo mundo me dizia que logo mais iria chegar as férias e que eu poderia viajar. Viajar é ótimo, e em clima de férias, melhor ainda, pois é naquele momento que você levanta cedo e vai em todos os pontos turísticos, só come em restaurante, se dá o luxo e o prazer de fazer o que quiser na hora que quiser. Eu amo viajar e vou continuar viajando, mas isso não é viver em um outro lugar, não é sentir a rotina. Viajar não é ser nômade. Ser nômade não é viajar.

Ser nômade é sentir uma segunda-feira estressante, cheia de coisas para resolver e ainda no fim do dia ter que ir ao mercado, só que em outros mercados; ser nômade é viver um domingo chuvoso em que o melhor a fazer é ficar em casa, só que olhando para outras paisagens pela janela. Ser nômade é ainda pedir a pizza no fim de semana, mas que vai ter um sabor diferente a cada mês (sabor kebab, na Romênia, e sabor steak, na Filadélfia). Ser nômade é poder criar manias, hábitos e ter seus preferidos. É ir pela terceira vez pegar o almoço no mesmo lugar e te perguntarem " o de sempre?"

Ser nômade é ter tempo suficiente para fazer coisas simples da vida como passear no próprio jardim, em um dia de semana, no horário do almoço, só pelo prazer de deixar as pegadas na neve fofa e depois voltar. E ao voltar, olhar para dentro da casa e ver que ali está uma casa típica de filme, aconchegante e quentinha.

Ser nômade, não é ser residente, não é ficar para sempre, não é falar a língua local de forma fluente, mas é poder viver e responder às suas próprias curiosidades, se encontrar e desencontrar em outros contextos.

Hoje, mais precisamente neste inverno, eu posso responder que: ver a neve cair é uma das coisas mais lindas que eu já vivi; que existem, de fato, diferentes tipos de neve; que os dias mais ensolarados são os mais frios; que é definitivamente mais seguro pisar na neve do que na água na rua; que 10 graus negativos é uma sensação indescritível, que você não treme, mas dói o rosto; que os casacos próprios para essas temperaturas são tão bons que é capaz de sentirmos mais frio no Brasil do que aqui; que frio é tempo de exposição e não só temperatura; que fazer boneco de neve é extremamente difícil, mas fazer anjinho na neve é realizador se você tiver coragem de se jogar.

É. Realizador se você tiver coragem de se jogar ;)